
Médica psiquiatra agredida no CAPS de Iperó usa redes sociais para denunciar “desmonte”, “falta de investimento” na unidade e até mesmo atuação de funcionários inexperientes
A Prefeitura Municipal de Iperó, por sua vez, preferiu não responder nossas perguntas e publicou uma Nota Conjunta nas redes sociais, onde fala do acontecimento e deixa muita “questão sem resposta!”

- 15/08/2025 às 19:12
- Atualizado 15/08/2025 às 19:12
A médica psiquiatra Josiane Rowe, 43 anos, agredida por uma adolescente de 14 anos, durante um atendimento na unidade do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), em Iperó, usou suas redes sociais para falar sobre o ocorrido e fazer uma série de críticas e denúncias sobre a precarização, como desmonte do sistema de atendimento, falta de investimentos, funcionários inexperientes, na prestação desse tipo de atendimento público. Durante sua manifestação, a médica chegou a dizer que quando ela sugeria mudanças/orientações no sistema ela era ignorada por suas lideranças, inclusive de forma de irônica, qual mundo ela vivia e ainda questiona a utilização pelo município dos recursos provenientes da chamada “Verba CAPS”, uma vez que não teria percebido investimentos na unidade.
Josiane inicia seu vídeo lembrando que a agressão ocorreu justamente na véspera do Dia do Psiquiatra e ressalta não ser uma pessoa que costuma utilizar as redes sociais para se manifestar, mas que nesse caso ela não poderia deixar de se expressar. “Antes de as pessoas julgarem, condenarem ou rotularem os pacientes de saúde mental eu quero que fique bem claro que o que aconteceu não foi culpa de um paciente com transtornos mentais. Isso foi resultado de anos de desmonte do Estado (Poder Público), da precarização dos serviços de saúde”, ressaltou.
Mais adiante a médica psiquiatra destaca que o que aconteceu com ela é algo rotineiro, uma vez que, ainda segundo ela, disse estar cansada de atender vítimas desse tipo de agressão e agressor, “por conta da mazela, falta de estrutura, recurso ou simplesmente por falta de medicamentos.
“O que eu quero falar é que o Ministério da Saúde encaminha para as prefeituras algo que chama ‘Verba CAPS’. Agora eu quero saber onde está essa verba CAPS, se essa verba não está sendo investida no CAPS?”, questiona e continua: “Gostaria que os gestores esclarecessem essa dúvida... Isso é crônico e vem ocorrendo a pelo mesmo uns seis anos. Nessa prefeitura (de Iperó) onde atuo eu trabalho faz 20 anos. Até então conseguimos segurar o rojão, mas o desmonte foi muito grande; a rotatividade de funcionários; funcionários inexperientes, desvalidação de orientação da equipe...”.
A médica chegou a dizer que quando ela destacava a necessidade de algum procedimento/investimento aos gestores era respondida com certa ironia: “Eu psiquiatra orientava a equipe, porém eu era desconsiderada. Porque as orientações que eu fazia necessitava de recurso financeiro. Aí era mais fácil falar: ‘Ah, não, imagina, você está viajando! Não dá! Em que mundo você vive?”.
Prefeitura não Respondeu aos nossos questionamentos!
A reportagem encaminhou uma série de questionamentos à Prefeitura, deu prazo de algumas horas e a pedido da Prefeitura, estendeu o prazo para o envio da resposta, mas a Prefeitura não respondeu e preferiu se pronunciar mais tarde nas redes sociais. Segue abaixo as perguntas feitas pela Folha de Iperó e que ficaram sem respostas!
1. A médica que foi atacada por uma jovem durante atendimento no Caps gravou um vídeo em que faz duras críticas a gestão do Caps na cidade. Destaca que "gostaria de saber sobre a aplicação da verba Caps que é destinada ao município pelo governo federal." Diante disso questionamos: Em 2021, 2022, 2023 e 2024, quais foram os valores recebidos ano a ano e que seja detalhado em que foi aplicada a verba destinada ano a ano?
2. Quantos pacientes foram atendidos em 2021, 2022, 2023 e 2024 e quantos estão em atendimento neste ano?
3. Quantos médicos fazem parte da equipe de atendimento do Caps?
4. Quais os outros profissionais que integram o grupo de atendimento do Caps?
5. A médica destaca ainda o problema da rotatividade de profissionais o que atrapalha, em sua visão de mais de 20 anos de atuação, ou seja é uma pessoa experiente, os atendimentos. Porque há esse problema? O que a prefeitura tem feito para resolver?
6. Alguns profissionais que não quiseram identificar falam em acionar o Ministério Público e o Ministério da Saúde para abrir investigação. O que a Prefeitura tem a dizer sobre isso?

Respondeu “só o que queria” pelas redes sociais
A Prefeitura Municipal de Iperó, por sua vez, preferiu não responder nossas perguntas e publicou uma Nota Conjunta nas redes sociais, onde fala do acontecimento e deixa muita “questão sem resposta!”. Segue nota na íntegra:
NOTA INFORMATIVA CONJUNTA
A Prefeitura de Iperó, através da Secretaria Municipal de Saúde, da Secretaria de Educação e de seus respectivos órgãos técnicos, CONSIDERANDO o incidente ocorrido no dia 12/08 p.p., envolvendo uma menor em acompanhamento de rede e de atenção psicossocial, e uma médica da rede municipal de saúde, amplamente divulgado por veículos de comunicação;
CONSIDERANDO as recentes publicações em redes sociais com especulações acerca da ausência de divulgação, por parte dos órgãos do poder público, quanto às medidas administrativas envolvendo a menor à qual se atribuem atos infracionais em unidade escolar da rede municipal e no CAPS;
CONSIDERANDO especulações havidas em redes sociais que sugerem desvio de recursos financeiros destinados pelo Ministério da Saúde para custeio de ações de atenção psicossocial realizadas no âmbito do CAPS, bem como da ausência de medicamentos para tratamento do público-alvo atendido pelo referido serviço;
CONSIDERANDO a legislação que rege as matérias em tela, em especial os ditames da Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que garantem proteção integral à criança e ao adolescente; e a Portaria de Consolidação GM/MS nº 6, de 28 de setembro de 2017 e suas posteriores alterações (em especial as dadas pela Portaria GM/MS nº 5.500, de 24 de outubro de 2024), que versam sobre recursos financeiros para os CAPs;
INFORMAM o quanto segue:
1. A Prefeitura de Iperó não pode divulgar eventuais procedimentos administrativos e de acompanhamento adotados em relação a menores aos quais se atribuam atos infracionais, na medida em que a divulgação destes, assim como ocorre com a divulgação de procedimentos policiais e judiciais nesses casos, constitui infração administrativa passível de pena, conforme previsto no art. 247 da Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990.
2. O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Iperó está tipificado como CAPS-I, sendo que o valor do recurso atinente, conforme recomposição financeira dada pela Portaria GM/MS GM/MS nº 5.500, de 24 de outubro de 2024, foi reajustado para R$ 42.994,00 (quarenta e dois mil, novecentos e noventa e quatro reais) mensais, sendo destinados à cobertura de despesas de custeio das ações de atenção psicossocial, em observância à legislação vigente.
2.1. A aplicação de tais recursos, além de sujeição à fiscalização dos órgãos responsáveis, é apresentada nas audiências públicas, sendo que, de toda forma, o detalhamento de informações pode ser solicitado por qualquer cidadão a qualquer tempo.
2.2. A Prefeitura de Iperó destina às ações de atenção psicossocial, mensalmente, uma média de R$ 98.500,25 (noventa e oito mil e quinhentos reais e vinte e cinco centavos), sem contar as despesas com medicamentos e internações. Desta forma, os recursos recebidos pelo Ministério da Saúde para o custeio de ações psicossociais do CAPS (R$ 42.994,00) suprem apenas 43,65% da demanda básica, dependendo a Municipalidade de outras fontes para o custeio dos 56,35% restantes, bem como para medicamentos e internações. 3. Em 07 de agosto de 2025, a Prefeitura de Iperó foi habilitada no processo de seleção do PAC para construção de um novo CAPS-I no Município, o que demonstra a preocupação dos órgãos municipais e da Administração na contínua melhoria da prestação desse serviço. 4. Conforme certificação do corpo técnico da Farmácia Municipal, não há falta de nenhum medicamento controlado, incluídos os de alto custo. Informa-se que os 2 (dois) únicos medicamentos não encaminhados pelo Governo do Estado encontram-se descontinuados, conforme nota da ANVISA.
A Administração Municipal se solidariza com a médica agredida e reafirma seu compromisso com a transparência e a ética, pautando suas ações na legislação vigente para assegurar a proteção integral dos menores, a consecução de políticas de saúde mental eficientes, a segurança dos servidores e a melhoria contínua dos serviços públicos.
Iperó, 14 de agosto de 2025
Paula de Freitas Borges Rodrigues, CAPS;
Fanny Goda, Farmacêutica;
Tatiane da Silva Caldeira, Auxiliar do Dep. Pessoal (Recursos Humanos);
Márcio Alves dos Santos, Tesoureiro;
Sulevan Aparecido Cruz Silva, Secretário de Educação;
Bruna Letícia Oliveira Curvêlo, Secretária de Administração e Finanças;
Lucio Gonçalves da Silva Filho, Secretário de Saúde.
O caso
A médica psiquiatra Josiane Rowe que atua em uma unidade do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), em Iperó, foi socorrida na tarde de terça-feira (12) após ser agredida por uma adolescente de 14 anos que passa por atendimento no local.
Segundo a Guarda Civil Municipal (GCM), ao chegar no Centro, a adolescente foi para a sala onde a médica fazia atendimentos. As duas ficaram trancadas no local por alguns minutos, até que os guardas conseguiram acessar a sala e encontraram a menina com a faca nas mãos e a profissional já machucada. Após alguns minutos, a adolescente se rendeu.
A vítima foi levada ao Pronto Atendimento de Iperó e, em seguida, transferida para um hospital particular de Sorocaba (SP), com ferimentos leves. A menina foi encaminhada à Delegacia de Iperó, acompanhada do Conselho Tutelar. A mãe da suspeita também foi acionada e compareceu no local. Conforme a polícia, a adolescente será encaminhada para a Fundação Casa de Sorocaba.
Em nota emitida na terça-feira, a Prefeitura de Iperó informou que uma equipe da Guarda Civil Municipal foi acionada após uma paciente, menor de idade, causar lesões à médica que faz atendimentos no CAPS.
Já a Secretaria de Saúde de Iperó também na terça-feira, também se manifestou por nota: "A Secretaria de Saúde esclarece que, tanto a profissional agredida como a autora dos fatos foram prontamente encaminhadas para atendimento médico, tendo sido a médica, posteriormente, transferida para hospital particular. O caso foi encaminhado à Delegacia de Polícia para as providências legais cabíveis. Dada a menoridade da autora, o Conselho Tutelar acompanhou os procedimentos.”
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